A bioeconomia se baseia no uso de recursos biológicos renováveis para a produção de alimentos, energia e outros produtos, visando a sustentabilidade ambiental, social e econômica e a inovação tecnológica.
Mesmo ainda em debate em torno do seu conceito, a bioeconomia já faz parte dos planos de governo em diversos estados da federação. No centro da questão está o decreto publicado em 5 de junho de 2024 pelo governo federal, que institui a estratégia nacional de estímulo às atividades consideradas como bioeconomia (Link).
Tratando-se de bioeconomia, a apicultura se destaca por diversos motivos. Em primeiro lugar, as abelhas são polinizadoras essenciais para a agricultura, contribuindo para a biodiversidade, a produtividade das culturas agrícolas e a conservação de habitats naturais dos biomas onde estão localizadas. A polinização realizada por abelhas aumenta a qualidade e a quantidade de frutos, sementes e vegetais, o que é crucial para a segurança alimentar. Assim, a apicultura não só gera mel, mas também melhora a produção agrícola de maneira geral.
Além disso, a produção de mel é uma atividade que pode ser realizada em pequenas propriedades, promovendo a inclusão social e a geração de renda em comunidades rurais. O mel, a cera de abelha, o própolis e a geleia real são produtos apícolas de alto valor agregado que podem ser comercializados em mercados locais e internacionais. Isso contribui para a diversificação da economia rural e a redução da dependência de monoculturas.
Neste texto vamos apresentar o trabalho desenvolvido pela Cluster Consulting, em parceria com o SEBRAE-MG, junto à Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (COOPEMAPI) e à CODEANM (Conselho de Desenvolvimento da Apicultura no Norte de Minas) para o posicionamento estratégico do mel de Aroeira no Norte de Minas. O projeto pode impactar mais de 2.000 famílias de apicultores envolvidos na atividade.
O mel de Aroeira do Norte de Minas possui diferenciais que precisam ser mais bem explorados para agregar mais valor ao produto. Pesquisadores do Serviço de Recursos Vegetais e Opoterápicos da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (SRVO/DPD) da Fundação Ezequiel Dias (Funed) realizaram um estudo significativo sobre a tipificação do mel de aroeira do Norte de Minas Gerais. Este trabalho revelou as características únicas e terapêuticas do mel, exclusivas da região, destacando os fatores naturais e humanos que o tornam diferenciado.
As pesquisas possibilitaram o registro de Indicação Geográfica (IG), na categoria Denominação de Origem, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que foi requerida pelo CODEANM. O processo contou com o apoio de diversas instituições, incluindo a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Durante a consultoria realizada pela Cluster Consulting, foi possível conhecer as demandas do mercado nacional e internacional de mel e os diversos segmentos de mercado. Majoritariamente, os maiores compradores de mel do mundo estão em busca de mel tipo commodity, ou seja, em grandes volumes e com preço competitivo. No mercado internacional, o Brasil é conhecido por ser um grande fornecedor de mel silvestre orgânico que é mais valorizado que o mel silvestre convencional, mas ainda é comercializado com base em preço e volume. O mel comercializado em grande escala é destinado principalmente à indústria de alimentos como ingrediente ou é vendido fracionado nas grandes redes de supermercados.
Embora a comercialização de mel orgânico seja positiva, dado o crescimento da demanda por produtos orgânicos, existem outras possibilidades. Há compradores que valorizam o sabor, a qualidade, a história e os fatores nutricionais do mel. Nesses segmentos de mercado, o quilo do mel pode custar até 3 vezes o preço do mel orgânico vendido como commodity, gerando um impacto muito maior na vida das famílias apicultoras.
No entanto, para que essa transformação aconteça e o mel de Aroeira do Norte de Minas consiga acessar o mercado mais sofisticado é importante melhorias em novas técnicas de produção, manuseio, armazenamento e distribuição do mel que garanta a melhor qualidade do produto. Adicionalmente, é necessário também ações em marketing, para que o consumidor reconheça suas características únicas.
Portanto, a definição de uma estratégia eficaz para posicionar o produto no mercado é determinante para sua valorização. A produção do mel de aroeira do Norte de Minas Gerais, sendo sustentável e ambientalmente responsável, valorizando a biodiversidade da caatinga e do cerrado mineiro, e gerando impacto social e econômico, fortalece seu posicionamento como um produto especial da bioeconomia brasileira. Conheça mais sobre o projeto aqui. Veja sobre outros projetos de bioeconomia aqui.